Para o educador:
Este plano de aula, que acompanha a observação do documentário O que ama a vida, sobre a viagem autobiográfica de Avraham Aviel, faz parte da série de planos de aulas que acompanham os filmes produzidos pelo projeto Testemunhos e educação. Esta aula inclui uma explicação do projeto, contexto histórico, informação sobre Avraham Aviel e os pontos do filme a serem enfatizados, para o aprofundamento de seu significado. Através destas ferramentas que colocamos à disposição do educador, a elaboração da memória, por parte dos alunos, fica mais enriquecida, incluindo de maneira mais ampla o significado desta viagem autobiográfica.
Entretanto, a lição em si se encontra na seção D: Pontos a enfatizar para a observação do filme e aprofundamento de seu significado.
Conteúdo:
A) Objetivos do Projeto
B) Contexto histórico sobre a aldeia de Dowgalishok, Radun e os partisanos
C) Sobre Avraham Aviel
D) Plano de aula: Pontos a enfatizar para a observação do filme e aprofundamento de seu significado.
A particularidade da travessia autobiográfica:
"Daqui a alguns anos, quando nós, os sobreviventes, já não estivermos vivos, os alunos que um dia se encontraram conosco poderão dizer: – Eu escutei da própria Hana e de outros o que lhes aconteceu em Auschwitz, eles estiveram lá e contaram-me."
Com estas palavras concluiu Hana Bar Yesha, educadora e sobrevivente do campo de concentração e extermínio de Auschwitz-Birkenau, o filme que fizemos em sua homenagem.
O nome do filme, Ela esteve ali e contou-me, é parte deste projeto educativo, por meio do qual procuramos preservar a voz dos sobreviventes também para o dia em que eles já não estiverem conosco.
O filme de Hana Bar Yesha, assim como os demais filmes realizados por este projeto, não é um testemunho filmado "comum". A particularidade dos filmes deste projeto é o fato de serem uma viagem autobiográfica educativa das testemunhas, através da qual regressam ao local onde passaram a infância e ao que era sua vida antes da Shoá. A travessia continua, passando pelos principais locais onde sofreram os horrores da Shoá, e finaliza nos locais onde encontraram, depois da destruição, as forças especiais internas que lhes permitiram voltar a viver. Isto está de acordo com a filosofia educacional do Yad Vashem.
O enfoque educativo da Escola Internacional para o Estudo do Holocausto do Yad Vashem orienta-se pelo princípio segundo o qual, ao nos propormos a ensinar a história da vítima judia na Shoá, é preciso apresentar ao aluno um ser humano com rosto e identidade, de quem os nazistas tentaram apagar a particularidade humana. A partir das cinzas e da perda incompreensível, temos que resgatar o rosto do homem e a imagem da família e das comunidades que se perderam durante a Shoá.
Nosso objetivo é duplo:
a) Devolver aos seres humanos seus nomes e rostos, e desse modo frustrar o objetivo dos nazistas que era apagá-los, juntamente com sua memória.
b) Conhecer o que perdemos para poder recordar.
Estas viagens de estudo, realizadas de acordo com esta concepção educativa, deram origem a um duplo testemunho – o filmado, mostrando o relato da testemunha, mas também o lugar geográfico onde tudo aconteceu. A interação entre eles criou um encontro especial: o encontro entre a testemunha e o local, diante das câmeras. Este encontro excepcional foi acompanhado por momentos únicos e de alta carga emocional. As testemunhas experienciaram, de novo, os momentos importantes de suas vidas, voltando a seus locais de origem. Estiveram outra vez nos pátios, nos campos de jogos e nas casas onde costumavam brincar. Voltaram a encontrar-se com o lar familiar, com os amigos e vizinhos. Sentiram os aromas e escutaram os sons. Essas experiências multissensoriais despertaram neles, novamente, diversos sentimentos. O fato de serem filmados e darem seu testemunho naqueles mesmos locais acrescentou uma característica especial de grande valor. Foi o que aconteceu, por exemplo, durante o testemunho de Malka Rosenthal, que falou pela primeira vez em público, diante das câmeras, sobre o assassinato do seu irmãozinho, ainda bebê, Kopale.
Desse modo, tratamos de conservar para as gerações vindouras a memória da Shoá de maneira viva, e permitimos aos espectadores dos filmes uma experiência educativa e emocional de grande significado.
Testemunhas e educação – um projeto educativo especial
Muitas vezes, constatamos que o relato do testemunho se realiza numa ordem cronológica e segundo as definições do entrevistador ou historiador. Em consequência, cria-se por vezes uma situação em que alguns dados do relato das testemunhas, que poderiam ter interessado aos educadores e auxiliá-los no seu trabalho, são deixados de lado ou não são suficientemente destacados.
Os profissionais da área da educação que acompanharam as viagens filmadas das testemunhas formularam também perguntasque não aparecem, em geral, nos testemunhos “comuns”. Com sua experiência de trabalho educativo sobre o tema da Shoá, estas pessoas sabiam levantar as questões de interesse dos alunos, e que eles, provavelmente, teriam perguntado aos sobreviventes. Além disso, os educadores também debateram com os sobreviventes assuntos de significado educativo referentes à identidade judaica, e questões humanas e universais de amplo significado educacional e de longo alcance.
Dessa maneira, os relatos testemunhais neste projeto permitem-nos conduzir os espectadores através de caminhos de conhecimento que conduzem à empatia, interiorização e ao desejo de aprender e estudar. O objetivo deste projeto é criar uma coleção de testemunhos para serem apresentados no futuro a alunos, professores, educadores informais, ao exército e a outros públicos, em vez dos sobreviventes. Nestes filmes queremos transmitir a voz dos sobreviventes também às gerações que nunca poderão escutá-los em primeira pessoa.
Contexto histórico da aldeia de Dowgalishok, Radun e os partisanos
Introdução para o professor:
O background histórico facilita a compreensão do relato pessoal da testemunha num contexto mais amplo, e descreve eventos locais que ocorreram durante a Shoá, dentro do contexto geral da política nazista e do extermínio dos judeus. O conhecimento histórico outorga ao professor a capacidade de esclarecer a história pessoal da testemunha tendo como referência os acontecimentos gerais. Desta maneira, o testemunho torna-se simultaneamente um feito individual e um acontecimento representativo, já que a Shoá está composta por uma soma de acontecimentos humanos trágicos que compõem um relato histórico maior: essa enorme catástrofe humana denominada Shoá.
Dowgalishok:
1848 – Dowgalishok, uma aldeia agrícola judaica localizada a 10 km de Radun, no distrito de Lida, região de Navahrudak (Nowogródek), foi fundada por iniciativa do governo russo, e dos seus 35 habitantes, 28 eram judeus. A lenda conta que um filho da família Lipkunsky fundou a parte judaica da aldeia, após ter recebido seu terreno como sinal de reconhecimento por haver salvado um general russo durante a batalha (um gesto pouco comum, pois os judeus estavam proibidos de trabalharem na agricultura). Conta também a lenda que a filha da família casou com o filho da família Pikovsky, e por isso as famílias se uniram nesta terra.
1898 – Nesse ano viviam na aldeia 48 judeus que trabalhavam em agricultura, embora, devido à pouca produção, os jovens tenham abandonado o povoado, e os que ficaram se viram obrigados a trabalhar em outros ofícios manuais e nos dias de verão alugavam suas casas aos rabinos do povoado de Radun.
Setembro de 1939 – Com o início da Segunda Guerra Mundial, Dowgalishok foi anexada pela União Soviética; os soviéticos não prejudicaram a população judia e lhes permitiram continuar com sua vida agrícola.
Final de junho de 1941– Conquista de Dowgalishok pelos alemães.
Outubro de 1941– Os judeus de Dowgalishok foram trasladados para o gueto ao lado de Radun.
Início de julho de 1944 – Dowgalishok é liberada pelo Exército Vermelho, junto com os demais povoados ao redor.
Radun:
Século XVI – Radun, localizada no distrito de Lida, na região de Navahrudak (Nowogródek), recebeu o status de cidade. Estima-se que os primeiros judeus transferiram-se para a cidade no final do século XVII ou no princípio do século XVIII.
Final do século XVIII – A cidade foi anexada ao Império Russo.
Segunda metade do século XIX – Em Radun viviam aproximadamente 300 judeus. Nessa mesma época, as terras da cidade foram expropriadas de seus donos e vendidas aos camponeses.
Em 1869, o rabino Israel Meir HaCohen, conhecido como Chafetz Chaim
Após as leis de 1882, o número de judeus na aldeia duplicou.
1915 a 1918 – No período da Primeira Guerra Mundial, Radun passou para as mãos da Alemanha.
1921 – Radun passou a pertencer à Polônia, que havia reconquistado a independência. Após a guerra e com o início da legislação polonesa, a situação econômica dos judeus, que eram comerciantes e artesãos, foi piorando, e passaram a depender do apoio do Joint e do YaKaPe
17 de setembro de 1939 – O Exército Vermelho ocupou Radun, que foi anexada à União Soviética, assim como o restante dos territórios orientais com o início da Segunda Guerra Mundial. Como parte da política soviética, os negócios foram nacionalizados, e em seu lugar funcionava uma cooperativa governamental; os edifícios da Yeshivá e o colégio hebraico foram convertidos em depósitos de grãos.
Radun, localizada a 10 quilômetros da fronteira com a Lituânia, transformou-se em estação de trânsito para refugiados judeus que recebiam ajuda e apoio dos habitantes da aldeia.
1940 – A Yeshivá Chafetz Chaim mudou-se para Vilnius, capital da Lituânia (que estava sob governo independente até junho de 1940), com a maioria de seus alunos e rabinos. Posteriormente, migrou de lá para os Estados Unidos, através do Japão.
30 de junho de 1941 – Radun foi conquistada pelos alemães. Com a conquista, iniciaram-se as perseguições a judeus e sequestros para os trabalhos forçados; suas propriedades foram confiscadas e foram obrigados a usar a insígnia amarela. Foi-lhes ordenado estabelecer um Judenrat de seis membros, que estava encabeçado por Noah Dolinsky, e a Polícia Judaica, composta por quatro policias.
Outubro de 1941 – O gueto em Radun foi estabelecido, e para lá foram evacuados os judeus de Dowgalishok e das aldeias próximas. No gueto havia 1700 judeus, e devido à superlotação viviam em cada quarto de 3 a 5 famílias. Os judeus do gueto se viram obrigados a realizar trabalhos forçados como cortar árvores, retirar a neve, e trabalhos manuais em fábricas alemãs. A ração de pão era de 100 gramas por pessoa, e eles estavam proibidos de comer carne. No gueto foram criados refeitórios populares para 300 pessoas necessitadas.
Janeiro de 1942 – foram assassinados 40 refugiados, assim como o Chefe da Polícia Judaica e os membros de sua família. Na primavera desse mesmo ano um grupo de jovens foi enviado a um campo de trabalho.
10 de maio de 1942 – Aktzia
Muitos dos judeus que conseguiram escapar chegaram ao bosque Nacha, e se integraram ao batalhão partisano soviético Leninski Komsomo, cujo comandante criou três acampamentos de família para os judeus (aproximadamente 600 pessoas), e era conhecido por seu bom trato. Embora com o passar do tempo tenham surgido, em alguns batalhões, atitudes hostis para com os judeus, eles criaram unidades independentes. Na mesma região atuavam também os partisanos da Arma Krajova, que eram hostis aos judeus e os matavam.
Junho de 1944
– Radun foi libertada pelo Exército Vermelho. 32 judeus de lá sobreviveram à Shoá, e a maioria emigrou para Israel.
- Baseado em: Rachel Grossbaum-Pasternak, Shmuel Spector (editor), Dowgalishok, Pinkas Hakehilot, Polin, Vol. 8, Yad Vashem, Jerusalém, 5766/2006 , pág. 238 (original em hebraico).
- Avraham Aviel, Kfar Ushmo Dowgalishok, publicação do Ministério da Defesa, 1995, pág.15 (traduzido ao inglês: A Village Named Dowgalishok: The Massacre at Radun and Eishishok, Vallentine Mitchell (September 1, 2006).
- Significa: "O que ama a vida".
- Movimento nacionalista judaico criado após o pogrom de 1881 em várias cidades da Rússia. Seu objetivo era estimular o retorno do povo judeu a Sion.
- Significado das siglas: Conselho de Ajuda Judaica; em polonês: Israelski Komitet Pomocy, em russo: Yevreyski Komitet Pomoshchy
- Aktzia (Aktion em alemão) – operação realizada pelas tropas alemãs e seus colaboradores numa determinada região, com o objetivo de concentrar os judeus em um só lugar a fim de enviá-los para o extermínio. Fonte: Enciclopédia do Holocausto, Yad Vashem, Jerusalém, 2ª edição, 2008, pág. 115
A extraordinária história de Avraham Aviel (Lipkunsky) é o relato da aldeia judia na Belarus.
Aviel nasceu em 1929 na aldeia agrícola de Dowgalishok, na Belarus, filho de Moshé e Sara Mina Lipkunsky. O pai, Moshe, era ferreiro, filho de uma família agrícola de Dowgalishok de várias gerações, e a mãe pertencia a uma família judia rabínica de Ejszyszki, na Lituânia.
Recebeu educação religiosa em uma “pequena Yeshivá” em Radun, a cidade do Chafetz Chaim. Em 10 de maio de 1942, quando tinha 14 anos, foi testemunha do extermínio dos judeus de Radun, Dowgalishok e arredores nas fossas de fuzilamento, no cemitério de Radun. Sua mãe e irmão mais novo foram assassinados nesse dia. Aviel conseguiu escapar das fossas de fuzilamento, encontrou seu irmão mais velho, Pinkas, que estava fazendo trabalhos forçados ao lado do lugar de fuzilamento, e ambos voltaram para o gueto de Radun. Posteriormente, conseguiram escapar do gueto e dirigir-se a Dowgalishok, para um pequeno bosque nos arredores da aldeia. Lá encontraram o pai, que também havia fugido durante o levante dos trabalhadores judeus que estavam nos trabalhos forçados. Após dois meses escondidos em bosques, dentro de poços que prepararam para si mesmos debaixo da terra, seu irmão foi assassinado diante de seus olhos, durante uma emboscada dos alemães na aldeia de Dowgalishok. Logo Aviel se escondeu com seu pai em um esconderijo especial preparado por um camponês polonês no celeiro de sua casa. Com a chegada da primavera de 1943, Aviel escapou com os partisanos judeus que lutavam nos bosques nos arredores de Radun-Grodno, e lutou como partisano até a liberação. Esteve um longo período no bosque, com o grupo das famílias judias, e conseguiu escapar dos alemães durante “a grande perseguição” do verão de 1943.
Aviel perdeu toda a família na Shoá: a mãe e o irmão mais novo foram fuzilados nas fossas de fuzilamento em Radun, o pai foi assassinado quando estava no esconderijo, e o irmão mais velho, Pinkas, foi assassinado diante de seus olhos em sua aldeia natal, Dowgalishok.
Com a libertação, Aviel voltou a Radun, se alistou na NKVD
Aviel tentou emigrar para a Terra de Israel no barco Katriel Jaffe, que foi capturado pelos britânicos, e foi deportado para o Chipre. Lá, nos campos de detenção, conheceu sua mulher Ayalá, também sobrevivente do Holocausto. Em 1946 emigrou para a Terra de Israel, e morou durante algum tempo na hachshará da Aliat Hanoar, no kibutz Mishmar HaSharon. No início de 1948, alistou-se na Sexta Divisão do Palmach(força paramilitar anterior à criação do Estado) e combateu nas batalhas de Jerusalém. Depois da guerra, Aviel estabeleceu-se no kibutz Tzeelim, e posteriormente se mudou para Tel Aviv, onde trabalhou inicialmente na indústria militar e estudou Economia e Administração Agrônoma. Mais tarde, dirigiu o Centro de Cursos e Seminários em Efal por parte da Histadrut (Federação dos Trabalhadores). Anos depois, entre 1958 e 1965, ocupou o cargo de diretor da livraria Sifri, como representante da Histadrut.Também trabalhou na tipografia e na editora Levin Epstein, e criou a empresa de difusão de livros, Beit Alim, que funciona até hoje.
Avraham Aviel participou do julgamento de Eichmann como testemunha por parte da promotoria, e seu testemunho focalizou o extermínio dos judeus de Radun, como exemplo do trágico destino dos judeus da Belarus e da história dos partisanos nos bosques.
Aviel publicou dois livros: Uma aldeia chamado Dowgalishok, sobre a vida na aldeia antes da Shoá, a vida no gueto, o assassinato dos judeus da aldeia, a fuga para o bosque e a vida lá até a liberação; e A liberdade e a solidão, com o relato sobre a época depois da Shoá – os anos 1945-1948.
Como foi dito previamente, Aviel está casado com Ayala Lieberman, nascida em Rivne, e o casal tem três filhos e nove netos.
- Comissariado do Povo para Assuntos Internos (em russo: Народный комиссариат внутренних дел, transliterado como Naródniy Komissariat Vnútrennij De) – Extraído de: https://es.wikipedia.org/wiki/NKVD.
- Instituição que promovia a emigração da juventude para a Terra de Israel.
Pontos a serem enfatizados para a observação do filme e aprofundamento de seu significado
O testemunho é uma experiência interpessoal durante a qual, mais de uma vez, o ouvinte vivenciou uma "sacudida empática". Esta gera, muitas vezes, uma sensação de responsabilidade no ouvinte, que se manifesta de várias maneiras, por exemplo: aspiração de confrontar-se com a memória da Shoá de uma maneira ativa, vontade de ampliar os conhecimentos, e a decisão de conservar e proteger para sempre a história de vida do sobrevivente.
A conservação do testemunho no contexto das viagens autobiográficas educativas, nas quais os sobreviventes regressam aos lugares onde passaram a infância e evocam suas vidas antes, durante e depois da Shoá, intensifica a experiência do testemunho, posiciona o espectador frente a desafios cognitivos e emocionais e cria nele uma sensação de compromisso.
Por isso, sentimos que não há necessidade de um debate profundo e exaustivo depois de assistir ao testemunho filmado, para conservar a experiência do encontro com o sobrevivente; é melhor permitir aos alunos processá-la por si mesmos a nível emocional e cognitivo.
Além disso, de acordo com nossa experiência, muitos alunos têm dificuldade de realizar um debate depois de ver o filme, preferindo confrontar-se com as cenas do mesmo por conta própria.
Por isso, sugerimos preparar os alunos para uma observação significativa do filme com a ajuda do guia para a observação, que contenha os pontos centrais a serem enfatizados. Estes guias, assinalados na continuação, converterão a observação em algo mais significativo. Não obstante, se os alunos demonstram interesse em debater, uma vez finalizado o filme, estes pontos podem ser tomados como base central do debate e agregar-lhes outros significados trazidos pelos alunos durante a observação do filme.
A observação do filme e seu debate estão destinados a alunos do Ensino Médio.
1- O povo judeu antes da guerra
- A aldeia agrícola judia:
Dowgalishok foi um caso excepcional na paisagem judaica, conforme descreve Avraham:
"Na aldeia Dowgalishok viviam 12 famílias, nove judias, e só três cristãs, que haviam comprado as terras dos judeus. Era uma aldeia agrícola judaica, uma coisa fora do comum. Judeus honestos, trabalhadores, que amavam a vida. Também os que… não tinham muito, mas viviam satisfeitos com seu quinhão.”
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O fato de serem agricultores proporcionou-lhes uma vantagem quando tiveram que permanecer no bosque como partisanos, e assim aumentaram suas possibilidades de sobreviver.
- A família:
Uma família sionista, que falava idish, conforme Avraham descreve a sua mãe:
"As canções que ela cantava eram sobre a Terra de Israel, e sobre o povo judeu. Todas em idish. Canções tão melancólicas”.
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- Educação judaica na aldeia antes da guerra:
A educação judaica esteve presente desde a idade pré-escolar até a maturidade do jovem, e também para as crianças da aldeia, que estudavam na cidade vizinha.
"Em Radun, quem fazia quatro anos, já ia para o cheder. No cheder aprendíamos o alfabeto com o professor, e a ler, para podermos rezar. Depois que ficávamos um pouco adiantados, íamos estudar na escola. Terminávamos a escola, íamos para a sinagoga. E na sinagoga estudávamos na pequena Yeshiva.”
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- Solidariedade:
Avraham se expressa todo o tempo na primeira pessoa do plural: NÓS, como se representasse um determinado público, mostrando a solidariedade e as relações que se estabeleciam entre os diferentes setores da comunidade judaica – entre os judeus da aldeia e os judeus da cidade.
2- O desmoronamento da vida
- A família no gueto:
Enquanto era permitido trabalhar, a família não viu a necessidade de fugir, e tratou de manter o que havia:
"Enquanto a vida no gueto prosseguia regularmente, segundo a rotina do gueto, que saíam todo dia para trabalhar, e voltavam para casa, diziam:
– OK, com isso se pode viver."
Enquanto permitirem, talvez assim o tempo passe, a guerra termine, e voltamos para nossa vidinha."12
- Tentativa da comunidade de manter as referências dentro de um mundo que desmorona:
Apesar das dificuldades e da superlotação no gueto, as instituições comunitárias e de ajuda social continuavam funcionando:
"A vida era difícil sob esse aspecto. (...) A vida no gueto era tolerável no que se refere à comida. Havia também um pouco de ajuda mútua. Havia pessoas que não tinham… eram sós; então cozinhavam para eles também. E também no local onde era a sinagoga. Em volta da sinagoga cozinhavam. E davam a comida para as pessoas. Havia ajuda mútua. Ninguém morria de fome .”
3- Aprofundamento da ruptura – Assassinato em fossas de fuzilamento
- Mudança nas funções dos membros da família:
O pai e o irmão mais velho de Avraham foram enviados para cavar as fossas onde seriam enterrados também os membros de sua família:
"Naquela manhã entraram nas casas e retiraram uns cem homens robustos. Deram-lhes pás para cavar e os levaram em carros. Entre eles, levaram meu pai. Meia hora depois voltaram para pegar mais gente para cavar. Aí levaram meu irmão Pinchas, Pinke.”
- Desmantelamento da família – dilemas:
O pai se viu forçado também a decidir de maneira contraditória as normas da vida normal:
"Ele nos disse: – Meninos, não convém estarmos os três juntos, porque se nos denunciarem, nós três seremos mortos ."
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- Crianças adultas sozinhas no mundo:
- No momento em que os dois irmãos trataram de fugir e desaparecer no bosque, Avraham se viu forçado a tomar uma decisão difícil de suportar, que lhe produziu, em retrospectiva, sérios sentimentos de culpa.
"Corremos entre as cercas e ele caiu (...) E eu continuei correndo, no impulso da corrida, passei por ele, e só ouvi sua voz: – Ai. Eu continuei correndo. Continuei correndo até ali adiante, onde há uma árvore, (...) Escondi-me atrás do prédio, para não ser visto, (...) Deitei-me e quis ver o que estava acontecendo com meu irmão. Se o deixaram em paz, talvez eu volte para perto dele. Mas, de repente, vi que vinham com lanternas. Vinham por essa trilha com lanternas, e depois ouvi dois tiros. Com certeza terminaram o serviço e o mataram. No momento em que ouvi os dois tiros, quando eles vinham com as lanternas, disse: – Não adianta voltar para ele. Aí corri de volta, como chegar a meu pai."
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Ressalte-se que este dilema ocorreu em um mundo onde o poder de escolha foi reduzido ao ponto de não haver possibilidade de escolha.
- Avraham sentiu responsabilidade por seu pai, e sentiu a necessidade de aliviá-lo para não colocá-lo em perigo.
"Que eu senti até necessidade de ir embora, para aliviá-lo, para que ele não tivesse dificuldades. Ele, de certa forma, aquele homem, forte, robusto, estava aquebrantado pelo que aconteceu."
- Mantendo a humanidade dentro da desumanização:
Durante os assassinatos, foi exposta a humanidade das vítimas, que em seus últimos atos demonstram várias tentativa de resistência à desumanização. Avraham relata alguns casos deste tipo:
-"Eu os vi, também eram empurrados, no meio de todos, da multidão, e fui para junto deles. Mamãe disse:
– Meninos, digam ‘Shemá Israel’ para morrermos como judeus.
Acho que essas foram as últimas palavras que escutei dela."18
-"e quando estavam despidos, nem terminaram de se despir, rajadas de metralhadoras despedaçavam seus corpos, e eles caíam lá dentro abraçados, com suas famílias, juntos. Como uma linha de montagem na fábrica, uma atrás da outra.”
-“De repente, vi de longe uma moça, discutindo com os policiais, com os guardas, com os alemães. Recusava-se, não queria se despir… Primeiro, porque não queria ficar nua. Por causa do pudor de ficar nua. Ela não queria, e eles lhe rasgaram a roupa à força. Mas não conseguiram, aí atiraram nela e ela caiu.”
4- Esconderijo e partisanos – Sobrevivência e resistência
- Esconderijo:
Enquanto estavam escondidos na casa da família de camponeses locais, o perigo era duplo, tanto para a família de camponeses que corria o perigo de pena de morte, como para Avraham e seu pai:
"Mas ele era leal. Ficamos nesse celeiro por baixo dos montes de palha, dentro de uma cova, semelhante às covas de guardar batatas. Na verdade, passamos lá todo o inverno. Através das frestas que havia entre as vigas, nós… também havia um pouco de luz, mas também espionávamos quem vem até o camponês e quem sai de lá. Vigiávamos o tempo todo. ”
- Sobrevivência no bosque
-Avraham descreve quem decidiu ir para o bosque e por quê:
“Os jovens que ficaram sem família, sem os pais, sem irmãs, disseram que a melhor maneira de sobreviver, e também de se vingar, é ir para o bosque, conseguir armas para lutar contra os alemães."
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O educador dará ênfase ao fato de que Avraham foi aceito em uma unidade de combate, quando muito poucos judeus podiam conseguir isso.
-Muitos judeus não foram aceitos nas unidades partisanas. Além disso, no bosque espreitava-os outro perigo, conforme testemunha Avraham:
“Todos os judeus de Dowgalishok que haviam se escondido naqueles bosques foram mortos. Nenhum deles sobreviveu. Mortos por quem? Não pelos alemães, pelos poloneses brancos (bielo-russos), que sabiam exatamente onde eles estão, e foram eles que o mataram.”
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5- A libertação e o retorno à vida
- A viagem para a Terra de Israel a partir do campo de detenção no Chipre:
- Com o fim da guerra, muitos refugiados regressaram a seus lares, mas Avraham, como muitos outros judeus, preferiu emigrar para a Terra de Israel, devido à educação recebida no lar:
"Havia na época muita gente nos caminhos. Pessoas vindo do leste para oeste, e gente no oeste indo para o leste. E todos iam para suas casas. Os poucos judeus que estavam no trem só tinham um destino. Não podiam voltar a suas casas, pois não havia uma casa para onde voltar. Todos se dirigiam para o oeste: ou para chegar à Terra de Israel, ou a parentes em algum país ocidental. Eu decidi ir para Eretz Israel, a Terra de Israel."
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- Chipre:
-"Finalmente chegamos, por um caminho tão difícil. Veja, já chegamos à Terra de Israel e não podemos desembarcar. A expulsão para Chipre foi um dos acontecimentos mais dolorosos. É como se todo o ânimo terminasse, o ânimo se esvaziou."
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- Junto com as amargas recordações de Chipre, Avraham conserva algumas recordações agradáveis, relacionadas à recuperação de sua vida, à necessidade de voltar a estudar e ao encontro com sua amada:
“(…) como uma pérola dentro do coração, inesquecível. Eu queria muito estudar, mas havia outra garota que queria estudar. Era a Ayalá. Então pensei cá comigo: – Estudar sozinho não tem graça. É melhor estudar junto com alguém.
Pensei: – Com certeza vou ouvir ‘não’. Fui até ela e disse: – Ayalá, o que você acha de estudarmos juntos? Tive a surpresa de ouvi-la dizer: – Sim, vamos estudar juntos. Saímos das tendas, viemos para cá, para a beira do mar, e lá havia, na beira do mar, uma cerca, e havia uma pedra branca, sentamos nela e começamos a estudar...
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- Realização do legado dos pais:
Avraham emigra a Israel e concretiza o desejo de seu pai, conforme lhe pediu durante a estadia no esconderijo:
“Quando tristes, falávamos que a mãe se foi, os irmãos também, a família acabou. Ele me dizia:
– Filho, eu já sou adulto, mas tu és um menino, vais sobreviver; constitui família, esquece tudo.
Assim me dizia, e eu me magoava. Era-me difícil ouvir aquilo. Ele dizia: – Eu já vivi a minha vida, mas tu, meu filho, se sobreviveres, constitui família e esquece tudo isso. Ele acertou. Constituí uma bela família, mas esquecer, isso eu não posso .”
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E como declara na fossa comum:
“Sobrou alguém da família, há mais um elo na cadeia.”
- A questão da fé:
Avraham não deixou de colocar os filactérios (Tefilin) mesmo quando era partisano:
“e num lugar com vegetação mais alta, como se fosse fazer as necessidades, sentava sobre os joelhos, fazia a oração bem rapidinho, colocava os tefilin bem rapidinho, mas o importante é que rezava."
Imediatamente depois da libertação, quando foi escolhido para dirigir as orações em Yom Kipur, não conseguiu finalizar sua reza:
“ E então, por quem poderia rezar? Por minha mãe, meu pai, meu irmão caçula. Não consegui continuar rezando. (…) Eu sabia que não tenho para quem rezar .”
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Apesar disso, durante o filme Avraham apresenta diversas expressões complexas em relação à fé. Uma delas pode ser observada no momento em que ele coloca os filactérios na fossa comum de Radun, os mesmos filactérios que recebeu de seus pais para seu Bar Mitzvá, que carregou em seu corpo durante todos os anos da guerra.
- A mensagem:
- Avraham disse diante de uma ameixeira florida em sua aldeia, Dowgalishok:
“Como é difícil tocar nesta ameixeira; ela cresceu, mas para mim tudo isso morreu. Não há vida judaica aqui, não posso tocar na árvore.”
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- Avraham começa o filme com uma declaração na fossa comum onde jaz sua família:
“Vim contar-lhe que eu vivo como judeu, no Estado Judeu, na Terra de Israel.”
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- Tzvika Nevo, Vídeo: O que ama a vida – A história de Avraham Aviel, Escola Internacional para o Estudo do Holocausto, Yad Vashem e Centro de Multimídia da Universidade Hebraica de Jerusalém, minuto 03:58.
- Nevo, minuto 09:44.
- Nevo, minuto 07:44.
- Nevo, minuto 13:52.
- Nevo, minuto 13:11.
- Nevo, minuto 17:23.
- Nevo, minuto 31:28.
- Nevo, minuto 33:17.
- Nevo, minuto 40:17.
- Nevo, minuto 19:37.
- Nevo, minuto 24:27.
- Nevo, minuto 25:00.
- Nevo, minuto 36:02.
- Nevo, minuto 40:56.
- Nevo, minuto 45:59.
- Nevo, minuto 50:03.
- Nevo, minuto 51:29.
- Nevo, minuto 52:46.
- Nevo, minuto 37:54.
- Nevo, minuto 56:12.
- Nevo, minuto 45:03.
- Nevo, minuto 49:02.
- Nevo, minuto 10:06.
- Nevo, minuto 01:44.