Estas sugestões de atividades estão divididas nas seguintes partes:
- Introdução
- Painel no 2 – Antes da Shoá
- Painel no 3 – Véspera da explosão da guerra
- Painel no 4 – Guetos
- Painel no 6 – Nos campos
- Painel no 15
Para cada sugestão há também uma proposta para o prosseguimento da atividade em sala de aula, depois da visita dos alunos à exposição em companhia do professor.
O Yad Vashem preparou estas sugestões de atividades como material auxiliar para os professores, para que possam visitar com suas classes a exposição itinerante: “Não é brincadeira para Crianças”.
O material contém sugestões de atividades na exposição, destinada à escola primária e também ao ensino médio.
Além disto, há também sugestões de trabalho em sala de aula, após a visita dos alunos à exposição itinerante.
O Caráter da Exposição
A Shoá (Holocausto) mudou o modo de vida das crianças. A realidade forçou uma mudança nos papéis sociais e familiares das crianças. A exposição fala da sobrevivência – a luta das crianças para se manterem vivas, e do esforço para conservar sua infância na difícil realidade que as cercava.
Cabe ao educador esclarecer a crescente tensão entre a tentativa das crianças de preservar a infância, e seu amadurecimento precoce, resultante da exposição a condições difíceis e devido às mudanças dos papéis familiares e de seu lugar na sociedade num mundo em desintegração.
A- A exposição trata do mundo infantil através da apresentação de brinquedos e desenhos, que recebem diferentes significados à sombra da Shoá.
- Os jogos destinam-se a alegrar a criança e ajudá-la em seu desenvolvimento. Com a ajuda do brinquedo, a criança exercita o controle do seu mundo, proximidade, pertinência. Na Shoá, o brinquedo passou a ter outros usos, e seu significado foi adaptado ao mundo das crianças, que sofrera uma reviravolta. O brinquedo passou a ser símbolo da ligação da criança com seu mundo anterior, a última coisa a conectá-la com a infância.
- Os desenhos são uma expressão do mundo interior da criança, que através deles expressa seus sentimentos e anseios, e processa as experiências pelas quais está passando. Veremos como os desenhos preservam o mundo interior da criança, quando tudo à sua volta está mudando, e como a realidade da Shoá está refletida nos desenhos infantis.
B- Épossível dividir a exposição em três períodos: antes da Shoá – durante a Shoá – depois da Shoá. Cada um dos painéis se relaciona a um destes três períodos. Antes da Shoá: Cabe ao professor tratar de forma ampla a vida anterior, a fim de criar empatia para com as crianças que viviam vidas normais num mundo infantil, no qual desfrutavam de segurança, rotina e ordem.
Durante a Shoá: A parte principal da exposição mostra o estilhaçamento do mundo da criança judia e as tentativas de preservar a ligação com o mundo anterior. O professor deve mostrar estas tentativas de preservar o mundo da infância através dos brinquedos, de trabalhos artísticos, da organização de estruturas adequadas, na medida do possível, à nova realidade.
Depois da Shoá: Como se constrói um mundo sem uma base de infância e educação formal? O que aconteceu depois da guerra com as crianças que sobreviveram à Shoá? Nesta parte debatemos os esforços das crianças sobreviventes em criar uma continuidade, depois de terem sido privadas de uma parte tão significativa de seu tempo de formação.v
A exposição é composta por 18 painéis e 2 filmes.
Observação 1: É recomendável que o professor oriente as crianças e que não haja uma situação em que elas se orientem sozinhas ou que circulem de forma independente entre os painéis.
Observação 2: A fim de estar preparado para orientar os alunos na exposição (e para poder entender as atividades), o professor deve ler os textos exibidos nos painéis e conhecer as fotos e objetos da exposição. Esta material se encontra em um arquivo em separado.
Observação 3: As sugestões contidas aqui não incluem todos os painéis. Foram selecionados alguns, considerados mais apropriados à linha de raciocínio que definimos acima.
Observação 4: Para os alunos da escola primária, recomendamos preparar-se da seguinte forma:
Antes da visita à exposição, pedir aos alunos que tragam, na medida do possível, no dia da visita, retratos de quando eram menores, com brinquedos. Caso não tenham, é possível pedir uma foto especialmente significativa para eles, sem explicar-lhes o objetivo. O uso das fotos servirá de introdução à exposição.
O objetivo é debater temas como: Para que serve o jogo? Que importância tinha ele em seu passado? Será que lembram alguma história especial relacionada ao jogo? Vocês guardam o brinquedo até hoje? Em caso positivo, por quê? Se não, como foi que se separaram?
Objetivos Educacionais:
- Compreensão do mundo das crianças judias na Shoá, numa tentativa de concentrar-se no particular para, a partir daí, abordar o geral.
- Criar empatia em relação às vítimas.
- Compreensão dos direitos da criança e debate sobre o tema com base no mundo das crianças judias na Shoá. Após a exposição, sugerimos realizar em sala de aula um debate aprofundado sobre a violação dos direitos da criança, de forma a criar um compromisso de preservação destes direitos.
Antes da Shoá
Foto 1 – Rivka Gartenlaub-Avihail – anúncio de café, Paris, 1939
Perguntas para os alunos:
- O que se vê na foto?
- Uma menina segura uma lata de café numa das mãos e, na outra, uma boneca. - O que significa o fato de ela segurar tanto o café quanto a boneca?
- Significa que Rivka ainda é pequena, pois está segurando uma boneca. - O que podemos concluir deste fato – uma menina judia que figura em um anúncio – a respeito da vida e da sociedade judaica daquela época? (Neste caso, na França)
- Os judeus estavam integrados à sociedade. - Os judeus tomavam parte de vários aspectos da vida social. - Isto representa a vida variada que os judeus levavam antes da Shoá.
Debate ético: mesmo no mundo anterior à guerra também usavam as crianças para fins comerciais.
Véspera da explosão da guerra
Perguntas para os alunos:
Haremos una comparación entre esta fotografía y las tres fotografías que aparecen en el Panel Nro. 2 que trata sobre el "antes de la Guerra":
- Não passou muito tempo entre o dia em que a foto que vimos antes foi tirada e esta que vemos agora. O que mudou? Quais as diferenças entre as fotos?
- Nas fotos do primeiro painel vimos crianças segurando seus brinquedos, parecendo felizes e confiantes. Nesta foto é possível ver que o fato de agarrar o brinquedo serve como autodefesa.
- De crianças com uma posição clara no mundo, elas passam a refugiados sem teto. Se antes eram alegres, constituindo um exemplo de qualidade de vida, como Rivka Gartenlaub, elas se tornam crianças que se envergonham da própria identidade. Pode-se debater aqui a ironia histórica: crianças que antes serviam de exemplo, em poucos anos precisam usar nas roupas as estrelas amarelas.
- A forma como seguram o brinquedo nos ensina que este é a única coisa que possuem, que não têm mais nada. - Que funções têm o jogo e a boneca desta foto em comparação à outra de antes da Shoá?
O jogo passa de prática de controle a objeto que protege a criança. A mudança na função do brinquedo representa a alteração da posição relativa da criança no mundo.
Guetos
Pergunta para os alunos:
- Segundo o retrato, qual o destino destas crianças?
Cabe ao professor contar aos alunos como as crianças e os jovens no gueto tentavam enfrentar a situação para sobreviver: o contrabando, a mudança de funções na família e a sagacidade. As crianças assumem papéis que permitem à sociedade e à família continuar a existir.
Poema 1 – Trecho do poema de Abramek Koplowicz: “Sonho”
Sonho
Quando crescer e tiver vinte anos,
Sairei para ver maravihoso mundo.
Me sentarei num pássaro motorizado;
Voarei para o espaço, bem alto.
Voarei, navegarei, rodarei.
embolta do velo e longínquo distante.
Passarei sobre rios e mares,
Para os céusme levarei e florescerei,
A nuvem será minha irmã, e o vento meu irmão.
Ficarei maravilhado com os rios Eufrates e Nilo,
Verei as Pirâmides e a Esfinge
O antigo Egito da deusa Ísis.
Voarei sobre as Cataratas do Niágara
Padecerei com o calor escaldante do Sahara.
Voarei sobre os montes cheios de nuvens do Tibet
E pela misteriosa terra dos mágicos;
E quando me livrar da canícula, abrasante e terrível,
Retornarei para voar sobre os icebergs setentrionais.
Cansado, voareí pela imensa ilha do cangurú
E sobre as ruínas da cidade de Pompéia,
Sobre a Terra Santa do Velho Testamento
E também sobre a terra do famoso Homer
Voareí lentamente, planando mansamente.
E assim me perfumarei das maravhilas do globo,
Para os céusme levarei e florescerei,
Tendo a nuvemzinha como irmã e o vento como irmão.
Pergunta para os alunos:
- Qual é o sonho de Abramek? O que reflete a capacidade de sonhar em tal realidade?
Fotos 2 e 3 – Desenhos em aquarela foram desenhados por Nelly Toll no gueto de Lvov. São ilustrações das histórias que sua mãe lhe contava. As pinturas mostram a vida de Nelly de antes da guerra.
Perguntas para os alunos:
- O que vocês gostam de desenhar?
- Na sua opinião, o que podemos saber sobre vocês através dos seus desenhos?
- Por que vocês desenham?
- Na sua opinião, qual é o significado destes desenhos na realidade da Shoá?
- As crianças têm a capacidade de recrutar a imaginação. Elas a utilizavam para enriquecer seu mundo, afastar-se da difícil realidade em que se encontravam.
- A representação através do desenho das histórias que a mãe contava antes da guerra realça o que havia de bom naquele tempo e a esperança no bem que ainda estava por vir.
- O desenho exprime força para criar e continuar.
Resumo do painel no 4
A primeira foto nos leva a pensar sobre a ocupação das crianças na época da Shoá. O mundo mudou e as crianças não perderam as esperanças. O poema de Abramek refere-se ao futuro que espera concretizar, à vida num mundo em que controle seu próprio destino.
Os desenhos de Nelly nos permitem ver a relação das crianças com o seu passado e a força que esta relação lhes dá. As várias ocupações das crianças preenchiam o seu tempo, de forma a lhes permitir viver à parte das dificuldades da época e do lugar, mesmo que momentaneamente.
Nos campos
Durante a II Guerra Mundial foram criados campos de concentração, trabalho e transferência em toda a Europa. Nestes campos estiveram encarcerados centenas de milhares de prisioneiros, e muitos deles foram assassinados. Eva Modbal, que era filha única, foi expulsa de sua casa em Saint Gyorgy, na Transilvânia, para os campos de Tolonz e Kistarcsa. A boneca de Eva, Greta, um presente de seu pai, a acompanhou durante todo aquele período. Eva recorda a noite em que a polícia húngara invadiu a casa da família:
– Greta e eu estávamos com medo de chorar... foi sorte ter Greta comigo! Eu a abracei o mais forte que pude e, desde então, não nos separamos.
A boneca foi sua melhor amiga e a única testemunha das boas fases da vida de Eva e sua família antes da guerra. Quando o pai foi separado da esposa e filha, Eva conta:
– Foi a primeira vez que Greta e eu tivemos que consolar a mamãe.
Eva e a mãe ainda conseguiram ver o pai, por pouco tempo, uma última vez, e graças a esse encontro, o pai de Eva conseguiu providenciar para elas uma chance de salvação. Depois disso, foi mandado ao campo do qual nunca mais voltou. Eva e a mãe imigraram para Israel em 1950. Em Israel, ela casou-se e teve filhos e netos. Quando Eva emprestou a amada boneca Greta ao Yad Vashem, em 1998, para esta exposição, teve dificuldades em se separar dela.
Ler a carta para os alunos:
Querida boneca Gerta!
E com o coração pesado que eu me despeço de ti. E não sei se dar-te à alguma senhora estranha do "Yad Vashem" para continuares a existir no meio de objetos e lembranças tristes de pessoas ou crianças estranhas, e a atitude mais correta.
E talvez tu possas contar às crianças, principalmente às "de hoje", o que vistes e onde estivestes comigo.
História trsite, mas tamben "alegre", pois sobrevivi… Querida Gerta espero que sejas a última testemunha de um testemunho terrível que nenhuma criança do mundo passe por isto outra vez!
E talvez, um dia, virei te visitarpois não tenho outro túmulo para meu pai, minha avó e meu avó, a não ser aquí, no "Yad Vashem". Talvez meus filhos e meus netos virão tambem.
Não estarás la sozinha! Talvez encontres brinquedos e bonecas que estiveram em lugares piores- e apesar de tudo, sobreviveram. Minha querida boneca!
Hoje, passas a ser parte integrante de un povo que renasceu e se ergueu como una salamandra! Do fogo e das cinzas.
Estarás em meu coração para sempre.Eva
Fragmentos da carta de despedida escrita por Eva Modvál-Haimovitz à sua boneca Gerta quando a entregou a Yad Vashem.
Perguntas para os alunos:
- Por que Eva, uma pessoa adulta, conservou a boneca consigo após a Shoá?
- Foi difícil para vocês separarem-se de brinquedos? Vocês ainda conservam algum brinquedo?
- Por que foi difícil para Eva separar-se de Greta, ao entregá-la ao Yad Vashem? Por que, assim mesmo, se separou dela?
- A boneca serve de memória.
- Eva compreendeu que o objeto representa uma história, que através dele se pode dar à Shoá uma dimensão mais pessoal e concreta.
- O mundo de Eva parou na infância, porque não conseguiu completar este período de forma normal (pode-se debater sobre o significado do amadurecimento sem ter como base uma infância “completa”, e se existe infância “completa”).
Foto 1 – Menino após a Shoá
Perguntas para os alunos:
- Qual é o significado de “ficar sozinho” depois da Shoá? O que caracteriza ser o único sobrevivente?
- Existem expressões que recebem um novo significado após a Shoá e isto também serve para a palavra “sozinho”: muitos sobreviventes ficaram sem a família, vizinhos, casa, sistema de ensino (escolas) etc. Eles tiveram que reconstruir o mundo a partir do nada. - Para aonde ele vai?.
- Cada criança teve um destino diferente.Observação para o professor: pode-se mencionar o fato de não termos informação sobre o menino da foto ou, até mesmo, sobre o local em que foi feita, e isto nos dá uma ideia da situação no final da guerra: as pessoas vão de um lado para outro, desligadas da realidade, isoladas; o caos impera, e a partir dos destroços é preciso criar um mundo novo.
- Como o mundo foi reconstruído depois da Shoá?
- Que códigos o mundo precisava criar?
- Qual é o nosso lugar na responsabilidade pela memória?
Resumo
Começamos a visita com a descrição do mundo normal, em que é atribuído à criança um lugar bastante claro. Os objetos são parte do mundo organizado da criança. Quando o mundo desmorona, o objeto passa por uma transformação e a sua posição relativa no mundo se modifica. Fizemos uma viagem com a criança e com o objeto, e, no final, ela restou só, sendo que, às vezes, tudo o que restou de seu mundo anterior foi o objeto. No final da viagem, a criança já não é uma criança, mas o fim abrupto e violento de sua infância deixa uma ferida em sua alma, que clama pela restauração da infância não concluída.
Os brinquedo constituem um símbolo que se modifica de acordo com as circunstâncias. Num mundo desumano, o objeto continua a ser antropomorfizado, mesmo na idade adulta, o que dificulta separar-se do objeto.
Atividades de sequência na sala de aula:
É possível abrir um debate sobre:
- O que levamos conosco da exposição?
É possível abordar a importância da preservação dos direitos da criança, segundo constam da Declaração de Genebra de 1924.